

TEUPAJOC

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO NA UMBANDA
A Umbanda caminha para ser uma religião onde o saber adquirido se torna cada dia mais importante. Não basta mais apenas jogar o novato para dentro da gira e esperar que ele “se vire", nem impor que ele aceite qualquer rito ou atividade sem compreensão. Os novos umbandistas anseiam por conhecimento e entendimento das práticas realizadas dentro do terreiro.
Nas religiões de raiz afrobrasileira o saber tradicional é transmitido oralmente, dos mais velhos aos mais novos. Há um tempo necessário para aprender cada fundamento, gradualmente, quando o neófito se mostra maduro para isso. Existe o segredo, conteúdo que não podem ser ensinados a qualquer um, sob risco de profanar o axé. O conhecimento pode ser usado como uma arma; nas mãos erradas, pode prejudicar a si e os outros.
Na Umbanda, a oralidade é mantida parcialmente. Permanece o aprendizado diretamente da boca dos mais antigos e das entidades. Soma-se a este processo, contudo, o estudo sistematizado, presente nos livros, reuniões interna, aulas, entre outros. Desde a tenda de Zélio de Moraes já era estudado os livros de Kardec. E hoje, mais de 110 anos depois, a literatura umbandística se multiplicou.
Lamentavelmente, ainda persiste o mito de que o médium não precisa saber de nada, uma vez que a entidade já possuiria todo conhecimento necessário para realizar o atendimento. É verdade que nossos amados guias e protetores são extremamente sábio e conhecem profundamente as leis da espiritualidade e mecanismos magísticos. Somente Deus, entretanto, é onisciente. Todos os outros seres estão em constante aprendizado.
A incorporação é muito mais complexa do que aparenta. A entidade não controla o corpo do médium como se estivesse vestindo uma roupa. As comunicações são mediadas pelo mental do seu “cavalo”. Se falta a ele o conhecimento necessário para passar a devida orientação, as palavras se tornam imprecisas. Requer por parte do guia um esforço muito maior para ele transmitir um conceito ou palavra que o médium desconhece. O estudo, portanto, nos aperfeiçoa enquanto instrumentos da espiritualidade.
Os bons espíritos não desejam que sejamos dependentes deles, mesmo espiritualmente. Que cada um saiba andar com as próprias pernas! E o conhecimento constrói os alicerces para que sejamos independentes. Ele não substitui a experiência no terreiro, porém a complementa e a fortalece. Quando entendemos o que praticamos atuamos com excelência. É o momento em que percebemos que os ritos e manifestações exteriores são apenas expressões alinhadas com princípios universais que regem todo Cosmos.
O estudo age como uma pedra de amolar capaz de lapidar nossas práticas de todos os excessos e exageros. É o que dá o discernimento entre o que é essência e aparência, tão necessário nos tempos atuais. Será o conhecimento o responsável para eliminar de nosso cotidiano os absurdos das quais somos informados. Sem ele, permanecemos na ignorância, o qual tem arrastados tantos para atividades que não condizem com os princípios da Umbanda.
Aquele que estuda amplia seus horizontes, expande sua consciência e compreende a razão de cada rito e fundamento. A evolução espiritual é também aquisição de novos saberes. Contudo, não apenas saber mais, é preciso desenvolver uma boa base moral para que o conhecimento não seja usado de forma negativa. Uma arma nas mãos de uma criança é perigo constante.
Por esta razão, nem todas as informações estarão disponíveis nos livros; ou não deveria, a princípio. Alguns fundamentos, para serem ensinados com segurança, exigem um médium maduro que se mostrou responsável e de bom caráter. Porque aquele que transmite um saber é também responsável pelo bom ou mau uso de seu aluno. Por isso, não tenha pressa e nem ansiedade para aprender. Não queira saber tudo de uma vez.
É função do terreiro, de seus Pais e Mães de Santo, direcionar este estudo do novato. Se ali não há um estudo sistematizado, o médium iniciante vai procurar fora e se expor às mais diferentes crenças e dogmas. O conhecimento não deve ser fechado, restrito, escondidos, salvo as ressalvas já feitas neste texto. A Umbanda e os terreiros têm muito a se beneficiar de um ambiente aberto, onde as pessoas se sentem à vontade para expressar suas dúvidas e questionamentos.
O estudo é também uma maneira de vivenciar a Umbanda, embora sem jamais substituir a experiência concreta dentro do terreiro. Com ele, somos apresentados à diversidade de doutrinas e fundamentos. Tornamo-nos mais conscientes, capacitados, desta forma, a bem defender nossa religião. Portanto, busquemos o conhecimento todos os dias, e repassemo-no adiante, a fim de combater toda ignorância. Estaremos, assim, cumprindo nossa papel na religião.
Saravá a todos!